Viveu intensamente seus dias fazendo filhos que caninamente não assumiu, enfrentando corajosamente seus detratores no livre canil municipal.
Como bom transgressor das normas da casa, fugia pelos fundos – via barranco – quando o portão da frente não lhe facultava a condição existencial que mais prezava: a de liberdade!
Inaugurou no mundo a raça dos cachorros que se sentam, confortavelmente, na escada, no meio fio, nas portas dos bares, para passivamente, observar o mundo que rodeava.
Relacionou-se amigavelmente com a vizinhança, de quem recebia reconhecimento, ração e mimos verbais.
Na porta da padaria, exibia-se em saltos na busca dos nacos de pão que lhe eram arremessados – fazia muito sucesso nessa performance circense.
Resistiu bravamente ao perrengue do corpo até os últimos momentos, numa alucinada luta pela vida.
-Bingo, procure nas esferas São Francisco de Assis que encontrarás paz e aconchego.
Aguarde por lá, livre do corpo, do tempo e do espaço e das mazelas humanas. Chegaremos.
Voa, Bingo!
Vanderlei Pequeno
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