segunda-feira, 10 de outubro de 2022

MEU NOME NA PAREDE DO FAVELISMO

DREAMLAND - Terra dos Sonhos

A ALTURA NÃO NOS INCOMODA

MITOS DA ATLÂNTIDA

O SEGREDO DAS FOTOS DA PEDRA DO TELÉGRAFO Revelação

EU E MINHA AVÓ DOLORES

De repente escuto o andar suave e macio vindo da cozinha de cimento, passando pelo quarto de cimento e chegando até o quarto onde eu dormia, que tinha uma janela e uma porta que saía para a Rua Professor Alcântara. O relógio marcava 6 horas e 30 minutos.

Nossa casa era modesta. Fogão Jacaré em cima da tália d’água, tábuas nas janelas aguardando o pão quentinho que vinha, ora da Padaria Santo Antônio, ora da Padaria Cabral, fogão de lenha na cozinha com uma chaminé, sala onde minha avó costurava para fora e um banheiro no quintal.
O ano era 1974, eu por volta dos meus 15 anos. Minha avó sempre me acordava para eu ir para a escola do SENAI onde eu aprendia o ofício de ajustador mecânico. Minha mãe a essas alturas já estava no trabalho, envolvida entre os barulhos ensurdecedores dos teares das fábricas dos Peixotos, garantindo assim o seu salário para o aluguel e o meu sustento. Ela deixava tudo pronto, meu café e o meu pão doce com manteiga já preparados.
Quase não encontrava com ela, pois o almoço dela era de 10 às 11h e eu saída da escola do SENAI às 11h. Assim minha avó que era a responsável para me vigiar e me segurar um bom tempo dentro de casa, até minha mãe chegar por volta das 16 horas.
Neste tempo, eu ficava ali, ouvindo as histórias intermináveis que ela contava. Falando do tempo em que esteve costurando em Brasília, fatos de família. Ela tinha um irmão, o Nhô Marra, que era o seu ídolo e dele muitas histórias legais, etc. Volta e meia ela me pedia para eu ir no armazém do Sertório para comprar um retrós de linha, para ir no açougue do Agripino pegar carne moída ou coxão mole hoje conhecido como chã de dentro, que vinha embrulhada num papel cinzento e muito grosso, ou mesmo ir no Sachetto para comprar um quilo de arroz e um de feijão. As verduras, o quitandeiro passava com sua cesta em nossa casa. Naquela época, sobra de comidas era guardadas em casa e sempre tinha algum criador de porco para ir buscar, e quando o suíno era abatido, não faltava um pedacinho de carne para gente.
Hoje dia 10 de outubro me bateu uma saudade danada dela em sua velha Máquina Singer.
São exatos 33 anos do seu falecimento (10/10/1989) às 10 horas e 10 minutos, conforme consta na sua certidão de óbito.
Não poderia ser de outra forma, pois Deus também achou que ela merecia uma nota 10 por isso a chamou no dia 10 e por tudo que ela fez, resolveu também lhe dar então outros três dezes de sobra.
Você Vovó Dolores, que tanto lutou e que tanto cuidou de mim com carinho, me fez aprender que as coisas mais simples da vida têm muito valor. Por fim você me fez aprender ainda mais que para ser feliz eu não preciso sair do lugar, eu tenho que ser o lugar.