O texto abaixo faz parte do meu novo livro O MENINO DO LARGO DO ROSÁRIO (a ser lançado em breve), onde eu relado o menino que fui, o que vi e o que eu aprendi nos 28 anos que ali vivi.
O ENCANTO POR CHAPLIN
Sempre achei a magia nas coisas simples. Cresci no Largo do Rosário, no ritmo do tempo em que a televisão ainda era uma janela encantada para mundos distantes. Era uma antiga TV Colorado, com botões que às vezes exigiam um pouco de carinho para funcionar e uma tela pequena, mas que para mim parecia enorme.
Foi numa noite qualquer, enquanto a família se reunia na sala pequena, que vi pela primeira vez aquele homem engraçado na tela. Charles Chaplin, com seu chapéu-coco, bengala e bigode peculiar, parecia ser um convite para algo novo, algo que não sabia nomear, mas que já me fazia sorrir.
Sentado no chão, os olhos presos na tela em preto e branco. Chaplin não dizia uma palavra, mas dizia tudo. Era incrível como ele fazia graça com coisas tão simples: uma porta que não abria, um prato que girava no ar, um pedaço de pão que virava dança. Ria, e às vezes quase chorava, com aquele jeito de transformar tristeza em poesia e silêncio em música.
Entre "O Garoto" e "Tempos Modernos", eu comecei a entender que o cinema mudo tinha uma voz que falava direto ao coração. Aprendi a enxergar no andar desajeitado do Vagabundo algo que ele sentia por dentro: a força para continuar, mesmo quando o mundo parecia pesado demais.
A velha TV Colorado, com suas faixas de chiado e imagem tremida, era a minha ponte para um universo onde o riso e a lágrima se misturavam. Assistia a cada cena como se fosse uma lição de vida. Não era apenas o cinema; era Chaplin que me mostrava que a humanidade, com todos os seus tropeços, era algo belo de se olhar.
Anos mais tarde, com o advento do vídeo cassete, consegui juntar todos os filmes de Chaplin, que ainda guardo com carinho, mas nada me tira da memória as noites que passava diante daquela TV. Cresci, mas guardei em mim o olhar do Vagabundo: resiliente, sonhador, capaz de transformar até os dias difíceis em histórias que valem a pena ser vividas. E, sempre que ouço o nome Charles Chaplin, sorrio, como quem encontra um velho amigo que lhe ensinou a ver o mundo com mais leveza.
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