Olhar de mãe
Era um dia um tanto especial quando ela atravessou a Praça
Sandoval Azevedo, carregando nos braços seu único filho, com apenas 15 dias de
vida. Seus passos eram firmes, mas seus olhos, tão expressivos, transmitiam uma
mistura de amor, esperança e um sutil pedido ao universo. Quem a visse, tão
linda e serena, poderia jurar que ela conversava com o pequeno, embora não
houvesse palavras. Talvez ela estivesse depositando naquele instante todo o
carinho e cuidado que o futuro exigiria, como se, em silêncio, estivesse
moldando o homem que ele se tornaria.
Naquele olhar, havia um desejo profundo: que ele crescesse forte,
generoso, íntegro. Que fosse alguém capaz de ampará-la nos dias difíceis, assim
como ela, desde o primeiro instante, o amparava com todo o seu ser. E assim eu
o fiz. Durante seus 95 anos, estive ao lado de minha mãe, fiel, inabalável,
como se o laço formado naquele instante inicial nunca pudesse ser rompido.
Mesmo enfrentando desafios, mesmo que às vezes minhas
próprias escolhas me afastassem de oportunidades ou sonhos, eu nunca a
abandonei. Carreguei comigo um compromisso que ia além das palavras, algo
sagrado. Reconhecia a força de minha mãe, que, mesmo sendo solo, não hesitou em
procurar apoio e confiança em pessoas que pudessem ajudá-la a me criar e
educar. Era uma parceria silenciosa, de almas que se entendem sem necessidade
de explicação.
Ela me deu tudo o que tinha: amor, ensinamentos, coragem. E
eu só pude retribuí-la com lealdade, gratidão e uma presença constante. Não
houve arrependimentos, nem queixas, apenas o vínculo eterno de mãe e filho, uma
força que o tempo, a distância ou qualquer dificuldade jamais conseguiu abalar.
Não poderia terminar este texto sem falar do fotógrafo Pedro
Comelo que é merecedor de aplausos pela sensibilidade única de sua lente, que
captou algo mais profundo do que uma simples imagem: a essência do amor. Sua
fotografia eternizou o olhar de uma mãe para o seu filho, um olhar que fala sem
palavras, carregado de carinho, proteção e esperança. É preciso mais do que
técnica para registrar algo assim; é preciso visão, alma e uma conexão com o
momento. Pedro conseguiu transformar um instante em eternidade, revelando, em
uma só imagem, todo o universo que cabe entre uma mãe e seu filho.
* A crônica acima faz parte do meu livro O MENINO DO LARGO DO ROSÁRIO
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